Graciliano Ramos, Era Vargas, Memórias do Cárcere, literatura, política.
O presente projeto busca destrinchar a obra Memórias do Cárcere (1953), de Graciliano Ramos, a qual relata os 10 meses em que o autor passou preso à época do governo Vargas, acusado indiretamente de envolvimento com o movimento comunista, mesmo que não tenha sido julgado formalmente. A partir disso, utilizando as abordagens qualitativa e exploratória, fundamentadas nos métodos das Histórias Cultural, Política, Literária e o estudo de Memórias, objetiva-se solucionar o seguinte questionamento: “Como é construída a identidade política de Graciliano Ramos presente em sua narrativa na obra ‘Memórias do Cárcere’ publicada em 1953?”. A obra faz-se necessária porque oferece um relato vívido dos eventos da época, revelando a repressão do governo varguista, refutando a ideia de que esta começou apenas em 1937, com a instituição do Estado Novo. Com as leituras e análises da documentação histórica a respeito do tema já realizadas, é possível inferir que há, na obra, como percebido por Schnaiderman (1995), duas vozes diferentes, que se mostram confusas e que se cruzam em vários pontos: a voz do Graciliano testemunha, que não se dizia comunista, e a do Graciliano autor, que já participava de reuniões do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Através da leitura parcial da extensa e complexa obra Memórias do Cárcere, é possível mensurar algumas das características mais marcantes que compõem a identidade política de Graciliano ao longo do livro. Algumas delas são percebidas facilmente ao passar pelas primeiras páginas, como o forte repúdio ao capitalismo e ao exército, contudo, outros aspectos estão mais entranhados, como sua aversão à justiça e, principalmente, como está demonstrado na obra o seu pensamento sobre o comunismo. A narrativa do livro ainda escancara autenticamente as nuances do sistema sociopolítico vigente, fazendo uso de termos considerados pejorativos e descrições psicológicas verossímeis.