Hábitos Alimentares, Oralidade, Memória, Resistências
O presente artigo tem como objetivo analisar os processos de transformação dos hábitos alimentares no Norte de Minas Gerais entre os anos de 1970 e 2020, com foco em compreender como essas mudanças foram moldadas por fatores históricos, sociais e econômicos. Parte-se da hipótese de que os interesses das indústrias alimentícias, em conjunto com a expansão dos supermercados, desempenharam um papel central na reconfiguração das práticas alimentares locais. Essa dinâmica foi fortemente influenciada pela estrutura agrária brasileira, pela modernização agrícola, e pelo acelerado processo de urbanização que caracterizou o final do século XX. A introdução de novos produtos e a crescente dependência dos supermercados alteraram profundamente as formas de produção e consumo de alimentos, distanciando as populações das práticas alimentares tradicionais. A metodologia adotada no estudo foi a oralidade, permitindo que a pesquisa se baseasse em narrativas pessoais e memórias coletivas de moradores da região. Essa abordagem revelou histórias de resistências e adaptações frente às transformações impostas pela modernização. Embora as mudanças tenham impactado de maneira significativa os hábitos alimentares, especialmente com a introdução de alimentos processados e novas cadeias de distribuição, as memórias do passado continuam a desempenhar um papel importante na formação de resistências às novas práticas. As lembranças ligadas à alimentação tradicional são mobilizadas como formas de resistência cultural, oferecendo uma perspectiva crítica sobre as transformações em curso. Assim, o artigo busca destacar como o passado e o presente se entrelaçam nesse cenário de mudanças alimentares.