Esparta Antiga, Integralismo, Bolsonarismo
Em 10 de dezembro de 1937, Leme fez um discurso no programa A Hora do Brasil denunciando os perigos do comunismo espartano. Em 2020, Esparta voltou às manchetes brasileiras com um grupo chamado ‘300 do Brasil’. Este trabalho trata da recepção de Esparta no Brasil dos séculos XX e XXI. O objetivo é estudar como esses grupos de extrema-direita imaginaram e transformaram Esparta em dois períodos distintos: a década de 1930 e os anos de 2017 a 2023. Para tanto, foram utilizados dois tipos de fontes: i. periódicos da década de 1930; e ii. postagens no Twitter (2017 – 2023). Considerando que as fontes digitais são muito voláteis, resguardamos tais evidências em um banco de dados permanente, a partir da metodologia da “arqueologia do salvamento”. Nossa pesquisa das fontes integralistas, os periódicos A Razão e A defesa Nacional ocorreu por meio de consulta ao Espaço Delfos de Documentação e Memória Cultural, da PUC/RS e ao site da Biblioteca do Exército. Já, a investigação da documentação digital foi realizada na ferramenta de buscas do Twitter, seguida do preenchimento de fichas utilizando o programa Microsoft Access. As evidências foram estudadas a partir de dois conceitos: i. o de “forma”; e ii. o de allelopoiesis. O primeiro foi elaborado por Guarinello (2010) e se refere a uma construção arbitrária, que engloba vestígios descontínuos do passado para permitir a construção, no presente, de interpretações e narrativas sobre esse passado. O segundo foi retirado do trabalho de Faversani (2020) e ajudou-nos a incluir no raciocínio as várias “formas” que condicionaram e mudaram, através do tempo, a imagem que temos hoje de Esparta. Como considerações finais, entendemos que a mudança no contexto das fontes pode criar “Espartas” muito contrastantes, mesmo que apresentadas por grupos politicamente identificados como de extrema-direita. Enquanto na década de 1930, eram entendidos como comunistas, para os bolsonaristas, são percebidos como guerreiros anticomunistas.